Odeio
mentira. Quem não odeia? Porém, quem de nós nunca mentiu alguma coisinha, mesmo
boba que fosse? Acredito que todos nós já usamos aquele famoso: ‘está tudo bem’, quando na verdade a vida está
um turbilhão de emoções ou uma enxurrada de problemas - o que é necessário até por questão de preservação, porque seria
muito chato, e insuportável até, sermos tão sinceros a ponto de descrevermos
nossas vidas a todo momento e para qualquer pessoa. Porém, mentiras sérias,
sim, essas abomino. Sou tão avessa a mentiras que não consigo conviver com
pessoas que mentem habitualmente, que usam as mentiras como meio de se
vangloriarem, esconder suas falhas ou de vitimizarem. Mas aí já entramos em
outro campo. O campo da mentira doentia que busca esconder os erros
dolosamente.
Entrei
nesse assunto ‘mentiras’ porque acabei de ler um livro – maravilhoso, diga-se
de passagem: “Pequenas grandes mentiras”, de Liane Moriarty. Essa obra é um
passeio pelo cotidiano de todos nós: amigas que se unem para ajudar outra amiga
um pouco deslocada, desabafos sobre o passado, pequenos fatos ‘escondidos’ das
amigas por vergonha, pequenas mentiras que parecem inofensivas e que,
supostamente, não mudariam a vida de ninguém. Mas, no decorrer da obra
percebemos que – exatamente como nas nossas vidas, algumas mentiras têm suas
consequências e podem afetar alguém. Afinal, quais mentiras são inofensivas? Quais
são necessárias? Será que um fato que alguém prefere esconder não mudaria ou influenciaria a vida de outra pessoa?
Adorei
uma passagem em especial do livro em que uma das personagens diz (não com essas
palavras) que não mais irá mentir, mesmo que os demais a ajudassem a sustentar
a mentira para salvá-la de algo pior, pois já mentiu tempo demais na sua vida e
nada mais poderá afetá-la. Nessa passagem em especial, se trata de uma mulher
que passou a adolescência inteira vendo seu pai agredir sua mãe, mas aprendeu a
fingir e a mentir que tudo sempre estava bem pelo ‘bem da família’. As marcas
dessa mentira e desse fingimento refletiram em sua vida adulta e, por isso essa
escolha de não mais fingir, nem mentir. Achei incrível o poder libertador que
essa passagem nos traz. Falar a verdade – mesmo que no momento pareça terrível,
no futuro traz uma paz que não tem preço.
Gosto
muito da narrativa de Liane Moriarty: ágil que nos prende do começo ao fim, sempre nos faz pensar e nos colocar no lugar do outro. Nessa sequência de
histórias que se interligam, o livro elucida a história de um grupo de
amigas/conhecidas e narra fatos e acontecimentos que todos nós presenciamos e
sentimos no nosso dia-a-dia de forma comum e que preferimos esconder: um
desafeto, uma relação agressiva, um amigo manipulador, um casal perfeito que na
verdade não há nada de perfeito, a opção sexual de alguém... sentimentos e as
reações que de uma forma ou de outra interferem em nossas vidas e nas nossas
atitudes como um todo. Importante o questionamento que a autora traz nos
meandros de sua narrativa a respeito do que é importante ser dito, o que deve
ser mudado e o que deve ser contado.
O
livro é na verdade um espelho da nossa sociedade: todos têm problemas, todos
vivem da melhor forma possível driblando os percalços da vida e nem sempre
deixando isso à mostra. Isso é preservação e faz parte da boa convivência até. A
forma como a autora nos faz ver que esses pequenos fatos e essas pequenas omissões (ou mentirinhas) do nosso cotidiano
podem ter consequências graves é de uma delicadeza ímpar. O importante é não
cair na cilada de mentiras sérias e guiar a vida através de condutas saudáveis
e que promovam o bem de todos.
Em
resumo: não existe vida perfeita, mas existem pessoas evoluindo e fazendo o
melhor que podem para ser felizes! Esse é o verdadeiro sentido da vida e onde
reside a suposta perfeição: ser feliz com o que se tem e da melhor forma que
conseguir!
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