Há alguns dias li o livro “O Cemitério de Praga”,
de Umberto Eco. Confesso que comprei apenas pelo autor, visto que já tinha lido
“O Nome da Rosa” e a obra foi fascinante. Porém, esse livro é bem diferente, ou
seja, a leitura é bem diferente: é uma leitura difícil, cheia de nuances e
ironias... Não é aquela leitura lúdica, simples e fácil... É necessário
concentrar-se para entender completamente o enredo e não perder o foco da
história.
A história se passa no século XIX, em Turim,
Palermo e Paris, cheia de tramas conspiratórias contra
jesuítas, maçons, judeus e qualquer grupo considerado uma ameaça. A história
alterna os diários de um capitão e um abade.
O personagem principal é o exímio falsário Simonini,
um tabelião que
falsificava fatos e documentos, os chamados ‘Protocolos dos Sábios Anciãos de
Sião’, que supostamente teriam inspirado Hitler com os campos de extermínio,
jesuítas que tramam contra os maçons, maçons, carbonários e mazzinianos que
estrangulam os padres com as suas próprias tripas. A história conta ainda com um
Garibaldi com as pernas tortas, os planos dos serviços secretos piemonteses,
franceses, prussianos e russos, os massacres em Paris (onde se comem os ratos),
horrendas reuniões por parte de criminosos que planejam explosões e revoltas de
rua, barbas falsas, testamentos enganosos, irmandades diabólicas e missas
negras.
Já no início do livro eu fiquei bastante
impressionada com tanto ódio descrito contra os judeus, padres, alemães,
austríacos, maçons, mulheres, italianos, franceses, armênios, turcos... Praticamente
contra todo o mundo! E com ricas descrições!
Além disso, na obra há vários relatos dos
alimentos, inclusive tem até explicação de como determinados pratos são preparados
– o que é um pouco chato. O protagonista trata fatos históricos e ‘heróis’ com
desdém e tem horror ao sexo.
Achou complicado? Que nada! Você nem imagina o quanto!
Prepare-se: o autor insere até Sigmund Freud!
O autor
mescla os ingredientes improváveis num cenário parisiense. A narrativa é
inteligente, mas muitas vezes faz o leitor se perder, tanto que o personagem
principal pratica atos reais, mas que foram, de fato, exercidos por outras
pessoas, deixando o leitor um tanto perdido.
No final do livro,
inclusive, tem uma tabela da cronologia da história para ajudar a localização dos
fatos no tempo. Segundo o próprio autor, somente o protagonista é fictício, o
restante dos personagens da obra existiu realmente.
Para ler esse livro e entendê-lo é preciso prestar atenção e ter
senso de humor para perceber a ironia de Umberto Eco. Confesso que eu esperava
uma leitura que me prendesse, assim como foi com “O Nome da Rosa”. Em “O
Cemitério de Praga” achei o enredo confuso e sem uma história fascinante, clara
e precisa como pano de fundo. Na verdade achei uma miscelânea de fatos que
confundiram a minha leitura e me faziam perder o foco na história.
Espero que gostem dessa obra. Me perdoem aqueles que adoraram esse livro, mas tenho o compromisso de relatar exatamente o que eu achei de cada obra que li. Não vou simplesmente dizer falsamente que "amei" uma obra somente porque o escritor é famoso, porque todo mundo gostou, ou simplesmente porque o autor representa "cultura".
A leitura dessa obra é válida, mas ficou aquém das minhas expectativas. Boa leitura!