segunda-feira, 26 de agosto de 2019

"A Noite", de Elie Wiesel


Quem acompanha o Blog já percebeu que eu amo livros e biografias que mexam com nossos sentimentos, que transmitam conhecimentos de fatos que nem sempre sabemos como realmente aconteceram.

Essa semana li mais um livro com o tema holocausto (sim, novamente esse tema pesado, mas sempre atual). Há muito tempo eu soube que havia um livro de Elie Wiesel – nobel da paz, que trazia todas as suas lembranças nos campos de concentração. Sim. Elie é um sobrevivente daquele horror causado pelo auge da insanidade humana. Porém, o livro está esgotado e somente agora consegui nos sebos do site ‘Estante Virtual’ (recomendo esse site, que é bem sério, os livros sempre chegam no prazo e em estado melhor do que a gente imagina). O livro que estou falando é “A Noite”.



Assim que o livro chegou eu não consegui deixa-lo ‘na fila’: tive que ler imediatamente. O livro é curto (cerca de 160 páginas), a linguagem é bem acessível, cativante e muitas vezes poética. É possível ler todo o livro em ‘uma sentada’ como costumo dizer, até porque o tema e a forma do autor escrever não nos permite largá-lo.

Dois trechos do livro "A Noite", de Elie Wiesel, que me chocaram foram a descrição das coisas que ele nunca esquecerá mesmo que viva para sempre e o outro foi a morte de todos sentimentos que haviam dentro dele, inclusive a morte da fé.


A parte que ele descreve as coisas que jamais esquecerá é de arrepiar e eu, que já comecei a chorar ao ler o prefácio, chorei novamente. Sempre que leio esse tipo de biografia me pergunto: Como puderam fazer isso? Como sobreviveram? Eu sobreviveria? A essa última pergunta sempre digo que não. Que eu não sobreviveria.

Quanto à fé... nesse tipo de relato sempre há a descrição da perda da fé. Mas eu insisto: sem a fé que eles juram que perderam, eu acredito que não sobreviveriam.

Cada livro que leio sobre o holocausto tem a 2ª Guerra Mundial como tema central, mas o enfoque é sempre diferente, cada autor tem sua visão, seus sentimentos, passou por seu próprio inferno e o descreve à sua maneira.

Quando me perguntam a respeito de livros desse tema eu falo que todos deveriam ler “Depois de Auschewitz”, de Eva Schloss (já falei sobre ele aqui, confira). Se é que é possível comparar os livros, e indicar apenas um, eu indicaria que lessem esse livro da Eva Schloss, pois, para mim, foi o mais detalhado e mais impactante. Quando eu o li, fiquei dias remoendo os fatos e a descrição é tão perfeita que me senti lá naquele horror todo, sentia até o cheiro que ela tanto falava.

O livro de Elie Wiesel – “A Noite” é maravilhoso, mas está esgotado. O livro mais famoso sobre esse tema, “O diário de Anne Frank, é muito bom, mas a linguagem é de uma menina de 14 anos e só relata a vivência dela e de sua família até serem capturados, pois, infelizmente, ela não sobreviveu para contar sua triste história.

Eu sei que esse tema é pesado e nos toca profundamente, mas não resisto. Precisamos conhecer os horrores da história para não permitir que se repita. Como eu já questionei no post do livro da Eva: ‘e se fosse hoje, será que seria diferente?’ Vemos todos os dias notícias de guerras, de fome, de tragédias pessoais... mas, nada é feito. Limitam-se a relatar e a culpar alguém. Lamentável.

Elie Wiesel infelizmente já nos deixou, mas sobreviveu àquele horror e deixou sua marca na história. Certamente o mundo que ele agora se encontra é muito melhor e mais justo do que o nosso. Aproveito esse post para agradecê-lo por todo trabalho social que realizou em vida e pelo legado que deixou, inclusive por essa sua maravilhosa obra.


quarta-feira, 20 de março de 2019

“O que Alice esqueceu”, de Liane Moriarty.





O que estamos esquecendo ou relegando a um segundo plano? Essa questão foi desafiadora para mim ao ler essa obra maravilhosa.

Adoro livros que nos fazem refletir e que nas entrelinhas nos trazem lições de vida. Liane Moriarty sempre nos faz parar para pensar e analisar nossas próprias vidas. A pergunta: ‘e se fosse comigo?’ sempre está presente em minha mente quando leio seus livros. Já li todas suas obras e todas são incríveis - essa não seria diferente. A leitura me prendeu do começo ao fim!

Alice, a protagonista, tinha uma vida feliz, mas quando um acidente na academia lhe causa uma amnésia toda sua vida vira do avesso e as peças não se encaixam - pois ela acorda dez anos antes! Imagine o que são dez anos de memórias esquecidas? Quantos acontecimentos? Quantos relacionamentos que mudaram? Quantos sentimentos para lidar e se adequar?

Nesse ponto da trama, impossível não parar e fazer uma análise pessoal. Pra mim foi assustador pensar que se uma amnésia igual à de Alice acontecesse comigo, nesse instante, seria terrível! Como agir? Como aceitar as mudanças e viver com elas de um minuto para o outro?

Imagine: eu estaria com pouco mais de um ano de casada, nesse período tínhamos familiares que hoje não temos mais nesse plano físico... Pense... Seria sofrer as perdas tudo de novo.

Há dez anos tínhamos relacionamentos com pessoas que depois se mostraram que não eram amigos de verdade e até a rotina profissional era diferente! Fizemos viagens que eu não teria a mínima recordação! Imagine ver as fotos e se perguntar como tudo aquilo poderia ter sido real?

A rotina do nosso dia-a-dia era completamente diferente de hoje! Eu sequer cozinhava todos os dias, cozinhava alguns dias da semana, mas todos os dias, não! Eu comia uma receita de negrinho todas as noites (hoje não mais!), teria de me ‘adaptar’ novamente! Fico pensando no sofrimento e no trabalho que toda essa adequação (que teria de ser imediata) traria!

Eu não fazia yoga, nem meditação! Teria que aprender tantas coisas novamente! Quantas pessoas eu conheci nessa última década, quantas coisas aprendi, mas não teria nenhuma recordação... Nossa, me deu até um cansaço só de pensar! Enfim, chega dos meus devaneios, principalmente porque é assustador!

A genialidade da escritora se torna evidente quando ela utiliza do acidente e da amnésia de Alice para nos fazer prestar atenção aos pequenos ‘esquecimentos’ diários que juntos foram alterando as relações familiares ao longo dos anos. Alice começa tentar descobrir o que aconteceu nesses dez anos para poder prosseguir com sua vida e percebe que ela própria atualmente é muito diferente daquela mulher de dez anos atrás e que sua família mudou bastante também.

O livro nos faz pensar no que realmente Alice esqueceu: na correria do dia-a-dia de uma mulher dedicada a várias funções, o que de importante mesmo Alice vinha esquecendo (ou deixando em segundo plano) antes do acidente na academia?

No contexto percebemos que detalhes da vida do casal e da vida familiar vinha sendo ‘esquecida’ por Alice e que o acidente ocorrido na academia (apesar de tortuoso) trouxe consciência para Alice e também a oportunidade de mudar e fazer melhor.

Na minha humilde análise, os pequenos cuidados diários que Alice vinha ‘esquecendo’, ou não dando tanta importância, foram muito mais determinantes às mudanças na vida de toda sua família do que a própria amnésia em si. Por isso, vejo que o livro deixou a dica de cuidarmos do que é nosso, de quem amamos, daquilo que realmente é importante pra nós e de não ‘esquecemos’ dos pequenos detalhes que na realidade são eles que fazem a nossa vida completa.

Liane Moriarty retrata a vida moderna com todas as nuances e problemas que todos nós vivemos, e ainda traz várias questões familiares muito importantes – relacionamentos não saudáveis entre familiares e entre amigos, relacionamento entre marido e mulher, cuidados com a casa e filhos, fazendo com que nós nos identifiquemos com a história e que, a partir desse olhar crítico, possamos cuidar de todos aqueles detalhes que fazem a diferença na nossa vida e daqueles que nos rodeiam.

Mais uma vez a escritora nos traz uma história de recomeços, mostrando que sempre é possível reavaliar nossas condutas para sermos mais felizes. Vale a reflexão: o que estamos esquecendo, deixando a desejar ou relegando a um segundo plano que poderia ser mudado para melhorar ainda mais a nossa vida?

Recomendo a leitura, não só desta obra, mas de todos os livros da Liane Moriarty por sempre fazerem com que nosso olhar se volte a questões que pareciam estar ocultas e que nem nos dávamos conta que existiam.

Boa leitura!